Três Razões para Fazer a Colocação dos Pronomes Oblíquos Corretamente e Arrebentar nos Textos!
Joaquim veio me interromper ou interromper-me? Oh, dúvida cruel!
Já reparou como é difícil, às vezes, lembrarmos da posição correta dos pronomes oblíquos átonos?
A situação piora quando, apressados, estamos no meio de uma redação para vaga em universidade ou concurso, cuja reprovação levaria à perda de um ano inteiro.
Por isso, saber a correta colocação dos pronomes oblíquos pode facilitar muito a vida de quem escreve redações.
São três os benefícios na verdade:
- ganhar tempo no momento da escrita sem ter de parar a fim de tentar lembrar qual é a posição correta;
- evitar a perda de nota, uma vez que a gramática recomenda certas posições, apesar de certa flexibilidade no uso;
- poupar os ouvidos alheios de pérolas do naipe da emblemática frase de Jânio Quadros: “Fi-lo porque qui-lo”.
Para lhe mostrar esses três benefícios, este artigo traz um manual completo, com todas as possibilidades de colocação dos pronomes oblíquos átonos.
Você ainda vai saber as exceções, os casos facultativos, como fazer a contração do verbo com o pronome de acordo com as regras e as dificuldades que as pessoas enfrentam para dominar as regras.
Continue comigo e melhore um pouco mais a fluência do seu texto com essas dicas.
O que é colocação pronominal?
Colocação pronominal é deslocamento da posição do pronome oblíquo átono conforme o verbo de uma oração.
Quais são os pronomes oblíquos átonos?
SINGULAR | PLURAL | |
PRIMEIRA PESSOA | me | nos |
SEGUNDA PESSOA | te | vos |
TERCEIRA PESSOA | o, a, se, lhe | os, as, se, lhes |
Qual a função de um pronome oblíquo? Ele atua como complemento do verbo.
Por exemplo: “Levei-o para passear no bosque”. Nunca diga: “Levei ele para passear no bosque”*, porque ele pertence ao caso reto e atua como sujeito, jamais como complemento.
Assim como não se deve dizer: “Arranje alguma coisa para mim fazer”*, porque, usando um pronome oblíquo no lugar de um reto, acontece o inverso do caso anterior.
O correto é: “Arranje alguma coisa para eu fazer”, uma vez que eu é o sujeito do verbo fazer.
Em quais posições o pronome pode ser colocado?
Há apenas três posições possíveis: antes, depois e no meio do verbo. Cada posição possui um nome:
- Próclise: antes do verbo. Exemplo: “Marta não se esqueceu de tudo depois do acidente”.
- Ênclise: depois do verbo. Exemplo: “Marta esqueceu–se de tudo depois do acidente”.
- Mesóclise: no meio do verbo. Exemplo: “Amanhã Marta sofrerá um acidente e esquecer–se–á de tudo”.
A posição natural é depois do verbo (ênclise), seguindo a ordem verbo→complemento. No entanto há algumas palavras que têm o poder de deslocar o pronome para antes do verbo (próclise).
Também há certos tempos verbais que possuem a condição de conduzi-lo para o meio do verbo (mesóclise).
Mas há três obstáculos que dificultam a aplicação correta dos pronomes.
Três obstáculos para a aplicação correta dos pronomes oblíquos
Há três obstáculos que você precisa ter ciência sobre a colocação pronominal, antes das regras de uso propriamente ditas:
- Divergências entre gramáticos na aplicação das regras
- Divergências entre nações na aplicação das regras
- Divergências entre escrita e fala com relação ao uso
1- Divergências entre gramáticos
Para a maioria dos gramáticos, a razão primordial da colocação adequada do pronome oblíquo átono é por uma questão de sonoridade.
Isso mesmo. Não é para melhorar a escrita, mas a pronúncia, uma vez que, quando os pronomes não estão na posição correta, tendem a soar estranho ou desagradável ao ouvido.
Tanto é que alguns não se referem a regras de colocação pronominal, mas sim a um conjunto de procedimentos que visam à orientação a respeito da melhor posição.
Esse afrouxamento nas regras leva a grandes divergências entre gramáticos, que pode impactar na avaliação da sua redação, levando uma banca avaliadora a ver erro onde outra não consideraria.
2- Divergências entre nações
Assim como as supostas normas de colocação não são unânimes entre gramáticos, também a colocação brasileira diverge da portuguesa.
Isso é, até certo ponto, esperado, já que há uma imensa variação no uso da língua empregada nos textos em função das divergências estéticas e ideológicas das escolas literárias.
Entre brasileiros e portugueses, diferenças ocorrem pelo fato de a pronúncia lusitana, em grande parte das vezes, não acentuar palavras átonas, ao contrário da brasileira.
Qual é a relevância dessa informação? Conhecendo o que a maioria dos gramáticos defende, o risco de algum corretor apontar colocação pronominal indevida no seu texto é menor.
Os procedimentos sobre onde colocar o pronome, apontados neste artigo, levam em consideração essas divergências.
3- Divergências entre escrita e fala cotidiana
A nossa fala cotidiana nunca leva em consideração as presumidas regras. Isso já desde a época do movimento modernista no Brasil.
Como nos evidencia o seguinte poema de Oswald Andrade (grifo nosso):
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro.
De fato, iniciamos os períodos com os pronomes átonos na fala, como sugere o poema embora a gramática repreenda esse uso.
Os modernistas já queriam romper com a tradição linguística e implantar uma gramática da fala, atitude esta danosa para a sobrevivência da nossa língua tal como ela é.
Mudanças ocorrem a todo o instante na língua falada. Mas, para a própria conservação do idioma, é importante a gramática não ceder a qualquer desses fenômenos.
O inconveniente dos desvios da colocação pronominal na fala é que, se não estivermos sólidos nas regras, eles podem nos induzir ao erro na escrita.
A seguir, vamos ver todas as circunstâncias que provocam o deslocamentos do pronome considerando essas divergências apontadas.
Próclise, ênclise e mesóclise
PRONOME PESSOAL OBLÍQUO ÁTONO |
OCORRE A MESÓCLISE |
1. Quando o verbo estiver no futuro de presente ou futuro do pretérito (e não haja nenhuma palavra de valor atrativo)
Atenção: Se houver alguma palavra de valor atrativo, a mesóclise pode ser evitada:
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OCORRE A PRÓCLISE |
1. Antes de palavras com o sentido negativo (não, nenhum, nada, nunca, jamais, ninguém etc.)
Atenção: Quando a palavra com o sentido negativo for “não”, o pronome também pode ser deslocado para antes dela:
2. Antes dos pronomes: a) Relativos (que, qual, quem cujo):
b) Indefinidos (algum, alguém, diversos, muito, tudo, vários etc.):
3. Antes dos advérbios (hoje, ainda, talvez, bastante, certo, longe etc.)
4. Antes das conjunções subordinativas (que, porque, embora, se, quando, conforme etc.): a) Não ocultas:
b) Ocultas (só integrantes):
5. Antes da palavra ambos
6. Antes do verbo no gerúndio antecedido por em
7. Nas orações: a) Exclamativas:
b) Interrogativas (iniciadas por palavras interrogativas: o que, quem, quando, onde, por que, como etc.):
c) Alternativas (ou… ou, já… já, quer… quer, ora… ora, agora… agora, quando… quando):
d) Optativas [que manifestam desejo]:
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OCORRE A ÊNCLISE |
1. Em todas as situações em que não seja obrigatória a próclise ou a mesóclise
2. Quando houver uma pausa entre o termo que provoca a próclise e o verbo
3. Quando o verbo iniciar o período
4. Em orações imperativas afirmativas
5. Quando o verbo estiver no infinitivo antecedido pela preposição a ou por – somente se o pronome for o(s) ou a(s)
6. Quando o verbo estiver no infinitivo, antecedido por artigo (combinado ou não com preposição)
7. Em uma locução verbal, com verbos principais no: a) Infinitivo:
b) Gerúndio:
Atenção: O pronome NUNCA deve prender-se ao particípio:
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OCORRE A PRÓCLISE OU A ÊNCLISE (OPCIONAL) |
1. Com verbos no infinitivo, não flexionados (exceto nos casos em que é obrigatória a ênclise)
Atenção: Não confunda o verbo no infinitivo com o futuro do subjuntivo, pois, no segundo caso, a posição do pronome deixa de ser opcional:
2. Em uma locução verbal, com verbos principais no infinitivo, antecedidos por preposição – exceto a preposição a ou por se o pronome for o(s) ou a(s)
3. Em uma locução verbal, com verbos auxiliares acompanhados de: (exceto nos casos em que é obrigatória a próclise) a) Infinitivo:
b) Gerúndio:
c) Particípio:
Atenção: Se houver uma partícula que atraia o pronome, usa-se a próclise ao verbo auxiliar:
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O casamento entre o pronome e o verbo
Farei aqui uma brincadeira para deixar mais claro a relação entre os pronomes oblíquos átonos com os verbos.
Imagine que o Verbo é um ser extremamente apaixonado pelo Pronome e que vive paquerando-o.
O problema é que o Pronome é apenas amigo do Verbo, pois está indeciso entre outras paixões.
Ou seja, existe uma ligação entre eles, mas um não interfere na vida do outro porque cada um vive a sua vida.
Nessa fase de indecisão do Pronome, ocorre a próclise, na qual ele fica entre o Verbo e a partícula que vem antes do verbo.
No entanto ele está ligado a este, embora não existam laços, isto é, hífen.
Eis que o Verbo consegue conquistar o pronome e passam a namorar. Cada um precisa se adaptar ao outro para manterem um relacionamento agradável.
Eles namoram-se, são ligados um ao outro, modificam-se para se adaptar aos gostos do outro, mas cada um vive em sua casa.
Nessa fase de namoro, ocorre a ênclise, em que o pronome não é mais seduzido por outras partículas, mas vai para depois do verbo, ligando-se a ele por hífen e, às vezes, modificando tanto a si como à terminação do verbo.
O relacionamento fica sério e eles decidem-se casar, pensando em, no futuro, permanecerem juntos.
Passam a morar na mesma casa, modificam-se para se adaptar às exigências um do um do outro e conviverem em harmonia.
Nessa etapa de casamento, ocorre a mesóclise, na qual o pronome vai para dentro do verbo quando este está no tempo futuro e ambos passam a ser apenas um, com as devidas adaptações nas formas de cada um para adaptarem-se à nova vida.
Vejamos agora como fica a união entre eles.
União do verbo com o pronome
Como foi dito, na próclise o pronome e o verbo não sofrem alterações e não se ligam por hífen.
Já na ênclise e mesóclise, tanto o verbo como o pronome podem ter alterações, depende do pronome terminação verbal.
Os pronomes que podem sofrer adaptações são:
- o
- a
- os
- as
As alterações que sofrem dependem da terminação do verbo.
- Quando o verbo termina em r, s ou z, essas consoantes são retiradas e os pronomes sofrem as seguintes modificações:
Exemplo com o pronome a:
- assistir + a = assisti-la
- comprar + a = comprá-la
- quis + a = qui-la
- tendes + a = tende-la
- diz + a = di-la
- fiz + a = fi-la
2. Quando o verbo termina em som nasal (m, õe), os pronomes sofrem as seguintes modificações:
Exemplos com o pronome o:
- amam + o = amam-no
- vendem + o = vendem-no
- roubarem + o = roubarem-no
- supõe + o = supõe-no
- repõe + o = repõe-no
- compõe + o = compõe-no
Conclusão (Colocação dos pronomes oblíquos)
Nós vimos neste artigo que há três (grandes) benefícios em se fazer a colocação do pronome oblíquo corretamente:
- Não perder tempo em um texto importante como a prova
- Não perder nota
- Não produzir frases que soem estranhas quando lidas
Ainda vimos que há também 3 (grandes) obstáculos no que diz respeito a determinar a melhor posição para a partícula:
- Não há regras, mas sim recomendações; e, ao final, quem manda é o ouvido
- Nem os gramáticos nem as nações que falam português seguem a mesma cartilha
- Na prática, a fala não corresponde à escrita
Você teve acesso a um extenso catálogo de recomendações para melhor posicionar o pronome e fazer as alterações que ele e o verbo necessitam.
Salve este artigo nos “favoritos” do seu navegador para que você possa consultá-lo sempre que tenha alguma dúvida.
Acredito firmemente que você está saindo daqui não só com uma visão mais ampla sobre as possibilidades da escrita como também com uma técnica diferente, que vai refletir-se nas suas redações.
Espero que você tenha gostado e que passe, de verdade, a pôr em prática essas recomendações.
Se isso aconteceu, deixe um comentário e compartilhe com seus amigos nas redes sociais.
Um grande abraço!
Referências:
- ALMEIDA, Napoleão Mendes de. Gramática metódica da língua portuguesa. 46 ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
- ANDRADE, Oswald de. Obras completas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1972.
- BECHARA, Evanildo. Gramática escolar da língua portuguesa. 2 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2010.
- CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. 3 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
- LIMA, Rocha. Gramática normativa da língua portuguesa. 42 ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2002.
- NETO, Pasquale Cipro; INFANTE, Ulisses. Gramática da língua portuguesa. 3 ed. São Paulo: Scipione, 2008.